Rodrigues-Moura, EnriqueEnriqueRodrigues-Moura0000-0002-7204-0197Cordeiro, Marcos RogérioMarcos RogérioCordeiroNogueira Alves, Luis AlbertoLuis AlbertoNogueira Alves2019-09-192018-10-302018https://fis.uni-bamberg.de/handle/uniba/44548O advento do neoliberalismo econômico a partir da década de 1980, com as intervenções de Margaret Thatcher, Ronald Reagan e do chamado Consenso de Washington, enterrou o denominado Estado de bem-estar social, construído a muito custo desde a II Guerra Mundial nos países democráticos ocidentais. As regras da “gouvernementalité”, que outorgavam ao Estado o controle e a ordem social, bem como a responsabilidade de facilitar uma vida econômica plena a cada indivíduo, entraram em crise e o cidadão, agora simples “homo oeconomicus”, passou a ser um “entrepreneur de lui-même”, empresário de si próprio, nas palavras de Foucault. Desse ponto de vista, o trabalho deixou de ser um espaço de autorrealização e de significação do mundo, como propusera, no século XIX, Marx, que foi, ao mesmo tempo, o principal acusador do caráter alienante que o trabalho poderia assumir sob a égide do capitalismo. Devido a isso, a cultura do trabalho transformou-se, com o tempo, numa cultura de revolta contra a globalização, a imigração e os Direitos Humanos: a antessala do populismo que paira hoje por toda a geografia ocidental. Pouco antes da grande recessão mundial (2008–2016), o Brasil teve um inegável desenvolvimento econômico-social que o fazia alinharse com os modelos de Estado de bem-estar, embora com as mazelas históricas próprias (altíssima desigualdade social de partida, racismo sonegado, etc.). A irrupção de propostas políticas neoliberais num país com ainda escassas estruturas sociais financiadas pelo Estado (educação, saúde, comunicações, etc.) e com uma elite político-econômica dominada por uma ideologia do imediatismo – o Brasil ainda como espaço colonial de passagem –, trouxe uma gravíssima crise política, social e econômica. Nesse quadro, o que passaria a unir os cidadãos e cidadãs do país seria a desigualdade, mais acerbada ainda do que noutros países com regimes políticos equiparáveis. A crise atual é também uma crise cultural. O recente episódio do incêndio do Museu Nacional serve de exemplo dessa situação, pois não seria um caso fortuito, mas um projeto consciente de descaso com a educação e o patrimônio cultural, histórico e científico por parte do próprio Estado. A literatura, como instituição, também tem um patrimônio físico a ser conservado – manuscritos, textos autógrafos, primeiras edições, etc. –; no entanto, depende menos da unicidade do objeto para a sua divulgação e recepção. É nesse sentido que a literatura, mesmo num país de letramento precário, pode ser um excelente espelho para, no âmbito da ficção, descrever, criticar e até sonhar as relações que os indivíduos estabelecem com o trabalho. O presentismo do ato de ler traz o passado e o longínquo para a imediata atualidade da pessoa que lê. Resta ao indivíduo estabelecer um diálogo crítico com o texto para ganhar autonomia cultural como pessoa.porLiteratura BrasileiraTrabalho860Apresentação – Dossiê „Literatura Brasileira e Trabalho“Presentation - Dossier "Brazilian Literature and Work"articleurn:nbn:de:bvb:473-opus4-530271