Rodrigues-Moura, EnriqueEnriqueRodrigues-Moura0000-0002-7204-01972021-10-012021-10-012021https://fis.uni-bamberg.de/handle/uniba/51443O cânone nacional brasileiro exclui essas obras por serem, cronologicamente, anteriores ao nascimento do Brasil como Império e, posteriormente, como República. Felizmente, nos últimos decênios já não se pode dizer que a poesia de Gregório de Matos seja uma novidade, mas sim se pode apreciar um interesse especial pelo seu suposto viés subversivo. No entanto, vale a pena lembrar, com as palavras sempre certeiras de Hansen, que as Letras escritas na América Portuguesa «não questionam a própria instituição do privilégio, mas os abusos, que são caracterizados como vulgares, néscios e também bárbaros e heréticos» (Hansen 2019: 51). No outro lado do Atlântico, o cânone nacional português desconheceu a maior parte desses textos por serem, geograficamente, alheios ao Portugal europeu (e ilhas: Açores e Madeira). Eram textos que, de um e do outro lado do Atlântico, não encaixavam nas formações das literaturas nacionais que começaram a se estabelecer a partir do século XIX. No entanto, esses textos são testemunhos de uma rica e complexa vida cultural transatlântica nos séculos XVI, XVII e XVIII. Havia autores, havia textos, havia leitores, e todos em estreita relação com o que se escrevia e lia (ou encenava) em Portugal e, em geral, na Península Ibérica. A cronologia e a geografia, o tempo e o lugar (chronos e topos) atuaram como categorias redutoras de uma heterogeneidade cultural inerente a qualquer espaço cultural, logo, também ao espaço cultural luso-brasileiro. Atualmente, as literaturas nacionais não feneceram, mas perderam o seu lugar eminente no panteão do saber universitário de cada país. O projeto homogeneizador da Modernidade não mais vigora no presente. Interessam, agora, as práticas culturais dialógicas, transculturais, transfronteiriças, poliglotas e híbridas, que propiciam o resgate e a interpretação de textos e discursos ausentes do cânone mais frequentado, como podem ser os textos produzidos na América Portuguesa. Em suma, textos, práticas culturais e formas de ler de um tempo passado, que se regiam por outros modelos retórico-poéticos e teológico-políticos, e que se reproduziram por quase trezentos anos nos Estados do Brasil e do Maranhão e Grão-Pará, partes inalienáveis do Reino de Portugal: Letras na América Portuguesa.porAmérica PortuguesaLiteratura Brasileira do Período ColonialHistória da Literatura - Teoria860Prolegômenos : Letras na América Portuguesabookparthttps://fis.uni-bamberg.de/handle/uniba/50063urn:nbn:de:bvb:473-irb-514435